Dizer “tens que ser forteˮ a quem está exausto, é como dizer “continua a caminharˮ a quem carrega um enorme peso. E eu, já me deixei disso. Quanto mais tempo invisto a entender o que sinto e o normalizo, mais aprecio e aceito a minha vulnerabilidade e mais em paz me sinto. Pelo meio do processo, há as dores de crescimento, há a gestão de tempo, há a gestão da culpa. Há um ir ao fundo para, depois, vir ao de cima. É disto que vos quero falar, em mais um Desabafo DoBem.
Com 18 anos, deixei a minha casa no norte e vim para Lisboa. Agora, com 38, percebo que vivi mais tempo aqui do que na minha cidade natal. Lisboa, vibrante e cheia de oportunidades, moldou-me numa mulher guerreira: resiliente, focada no desporto, alimentação equilibrada e sono reparador como pilares para enfrentar desafios. Mas, ao longo do tempo, percebi que ser guerreira nem sempre significa estar bem.
O cansaço emocional foi ganhando espaço e a culpa tornou-se uma presença constante. Culpa por abrandar, por descansar, por não estar sempre em alta performance. Culpa que só consegui enfrentar ao parar, refletir e redefinir limites. Com a construção da DoBem, um projeto que tanto amo e que é serviço público para muitos, vieram também novas responsabilidades e pressões. A necessidade de estar presente, liderar, e criar algo significativo exigiu que saísse da minha zona de conforto e, inevitavelmente, surgiram desconfortos emocionais.
Aprendi que crescer dói – e isso é normal. Chamo a essa fase de “dor de crescimento”. Não é fácil, mas é necessária. Há momentos em que o entusiasmo se transforma em exaustão, e o ritmo frenético tira-nos o prazer das coisas que mais amamos. Foi quando percebi que estava no piloto automático, sem curtir o que me fazia feliz.
A solução? Parar. Voltar ao norte, ao colo da minha casa, ao mar, às pessoas que me acolhem. Aprendi a importância de gerir o meu tempo, de dizer “não” e de respeitar o meu ritmo. Não sou só uma mulher guerreira; sou uma mulher que se quer bem, que aprende a equilibrar ambição com cuidado, entusiasmo com descanso.
“Então eu parei: e parei sem culpa. Eu parei pela clara consciência do meu piloto automático. Então eu cancelei tudo. Só o fiz porque fui ao limite da minha exaustão. Por isso, calcar limites, por vezes faz sentido. Até é bom. Se não chegamos ao limite, vamos continuando a empurrar.”
Dezembro trouxe-me essa clareza: não quero viver no ritmo da pressa ou da culpa. Quero um ritmo que respeite o meu corpo, a minha mente e os meus sonhos. Esta é a mensagem que levo para o Natal e para a vida: cuida do teu ritmo, do teu físico e das pessoas que te amam. Porque só assim conseguimos vibrar com o nosso crescimento e celebrar o que realmente importa.